MELHOR CACHAÇA ARTESANAL DO BRASIL

A Historia da Cachaça

"A cachaça tem sua história diretamente relacionada com a colonização portuguesa do Brasil e a produção de açúcar. O cultivo da cana para a produção do açúcar foi introduzido no Brasil na década de 1530, pois, segundo as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, as primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram a nosso país em 1532, sendo plantadas em São Vicente.|1|

A introdução da cana-de-açúcar no Brasil foi parte da estratégia traçada por Portugal para desenvolver uma atividade econômica na colônia. Como não haviam sido descobertos metais preciosos, o comércio de especiarias estava decadente e as terras portuguesas na América eram constantemente invadidas pelos franceses, a Coroa portuguesa decidiu implantar a produção do açúcar para incentivar a ocupação do Brasil.

O açúcar era produzido pelos portugueses nos engenhos, e os primeiros engenhos se estabeleceram inicialmente em São Vicente, ainda no ano de 1532. A produção do açúcar se consolidou como a principal atividade econômica do Brasil até o final do século XVII, e a sociedade colonial se desenvolveu em torno dela.

A escolha do açúcar se deu porque era uma mercadoria valiosa no mercado europeu, com grande retorno financeiro; Portugal tinha experiência com a produção açucareira, pois o cultivo do açúcar havia sido introduzido na Península Ibérica durante o período da ocupação muçulmana, além de Portugal ter introduzido essa produção em Açores e Madeira; por fim, o solo e o clima do Brasil eram propícios ao cultivo da cana-de-açúcar."

Surgimento da cachaça

A cachaça surgiu como consequência da produção do açúcar, e sua fabricação se dava, em parte, com o melaço produzido nos engenhos. Uma das etapas do processo de produção do açúcar no Brasil colonial era a cristalização do açúcar, que acontecia na casa de purgar. Nesse local, o açúcar passava por um processo de branqueamento que se estendia por 40 dias.

Esse açúcar cristalizado era dividido em vários tipos, e, quanto mais branco o açúcar, mais valorizado ele era no mercado. Uma parte desse melaço, no entanto, não se cristalizava, acumulando-se no fundo dos reservatórios ou escorrendo para fora da forma. Esse melaço que não se cristalizava foi utilizado inicialmente na produção da cachaça.

Essa reutilização tinha como objetivo não desperdiçar o melaço, dando a ele alguma utilidade e potencial valor de mercado. Além da produção da cachaça, ele também poderia ser utilizado na alimentação de alguns animais, como os porcos. O melaço usado para a produzir a cachaça passava por um processo de destilação.

Os historiadores debatem sobre a origem do nome da cachaça, e uma hipótese aponta que a palavra cachaça deriva de “cachaza”, termo usado para se referir à borra de um vinho de qualidade inferior que era consumido na Península Ibérica. Durante o período colonial, usava-se o termo cachaça para mencionar a espuma produzida durante o processo de cozimento do caldo da cana.

Essa espuma era retirada e também direcionada para o consumo dos porcos (chamados de cachaços pelos portugueses). Uma segunda camada de espuma também era retirada e dada aos escravos para que eles consumissem, o que acontecia depois de passar por um processo de fermentação. Por fim, a bebida passou a ser produzida dessa espuma ou do melaço não cristalizado que fermentava. A bebida produzida pela destilação também passou a ser chamada de cachaça.

Além disso, a cachaça é popularmente conhecida como “pinga”, e uma hipótese para esse nome faz menção ao processo de produção dessa bebida. Uma história conta que a bebida foi apelidada de pinga pelos escravos porque a fervura do caldo da cana gerava um vapor que se condensava no teto e gotejava sobre eles.|2|

Popularização da cachaça

A produção da cachaça fez com que a bebida se tornasse a aguardente mais consumida no Brasil, sendo uma bebida muito consumida pelos escravos escravizados e por pessoas de baixa renda. Entre os grupos que a consumiam, estavam “negros escravizados ou livres, mestiços de índios e negros, brancos, pobres ou vadios”.|3|

Na segunda metade do século XVI, a aguardente mais popular no Brasil era a bagaceira, produzida do bagaço da uva e do rum, outra bebida produzida por meio da fermentação e destilação do melaço oriundo da cana-de-açúcar.|4| Entretanto, a cachaça ocupou o espaço no mercado interno e externo, tornando-se a aguardente mais popular do Brasil.

A cachaça servia de complemento calórico para a alimentação das classes que a consumiam, sendo encontrada em diversas vendas e em diversas vilas do Brasil no período colonial. A cachaça também foi muito utilizada como mercadoria para escambo, e muitos traficantes de africanos escravizados adquiriam escravos usando-a como moeda. Estima-se que eram necessários 86 litros de cachaça para ter posse sobre uma pessoa escravizada na África.|4|

Proibição da cachaça

A medida que a cachaça foi se popularizando, ela passou a ser produzida com melhor qualidade, e o melaço não cristalizado passou a ser substituído pelo caldo da cana fermentado. A grande disponibilidade de cachaça prejudicava os interesses da Coroa portuguesa, que via que as aguardentes e bebidas alcoólicas vendidas por ela perdiam espaço para a cachaça.

Assim, a Coroa portuguesa proibiu a produção, comercialização e o consumo da cachaça. Em 1649, a proibição foi reafirmada por meio de uma Carta Régia, que restringia o consumo da bebida para os escravos. O objetivo da Coroa, novamente, era acabar com a concorrência da cachaça para as bebidas exportadas por Portugal.

Com a proibição, a cachaça passou a ser produzida, consumida e exportada de maneira clandestina e sem que Portugal tivesse controle. Essa proibição gerou uma grande repercussão no Rio de Janeiro por meio da Revolta da Cachaça, quando fazendeiros locais se rebelaram contra o governador Salvador Correia de Sá Benevides, que havia resolvido ampliar impostos sobre a produção local.

Essa revolta aconteceu entre novembro de 1660 e abril de 1661, sendo controlada pelas autoridades portuguesas ao final desse período. A proibição da produção e venda da cachaça só foi revogada na década de 1750, quando a Coroa portuguesa deu permissão para o retorno, mas estabeleceu impostos para tanto. Os impostos sobre a cachaça contribuíram para a reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto em 1755"